terça-feira, maio 23, 2006

Tudo o que acontece, acontece por bem...

Era uma vez um rei, num país distante, que tinha um conselheiro, o qual estimava muito.
O conselheiro era muito sábio e costumava dizer sempre, a propósito de algo q acontecesse, "Tudo o que acontece, acontece por bem". Um dia, ao descascar uma peça de fruta, o rei cortou a cabeça do dedo mindinho da mão esquerda.
Como podia ser um sinal, foi falar com o conselheiro:
- Já viste? Já viste o que me aconteceu? Fiquei sem a ponta do dedo mindinho! A descascar fruta!
- Tudo o que acontece, acontece por bem, vossa Majestade... - respondeu o sábio.
Desta vez, fosse lá por que fosse, o rei não achou muita piada às sábias palavras do estimado conselheiro e mandou-o para as masmorras do palácio. Quando fecharam a porta da cela, o conselheiro murmurou:
- Tudo o que acontece, acontece por bem...
No dia seguinte o rei foi à caça e perdeu-se da corte ao perseguir um veado.
Como entretanto tinha caído a noite, resolveu acomodar-se debaixo duma enorme árvore e procurar o caminho na manhã seguinte. Era noite de lua cheia e também o solestício de Verão, data marcada pelos astros para realizar um sacrifício humano a uma deusa. As sacerdotizas dessa seita andavam à procura duma vítima e quem é que elas encontraram? Nem mais nem menos do que o nosso adormecido monarca. Amarraram-no e levaram-no à presença da Alta Sacerdotisa, para que esta pudesse inspeccionar detalhadamente a oferenda antes do sacrifício:
- Então vocês trazem-me um ser IMPERFEITO para sacrificar à grande deusa??? Como se atrevem? - rugiu a sacerdotiza.
- Imperfeito? Mas ele é o rei... - balbuciaram as caçadoras.
- Rei ou não rei, este ser está incompleto! Falta-lhe a cabeça do dedo mínimo! Não é digno de ser sacrificado à grande Deusa.
E foi assim que sua Majestade foi libertado e conseguiu chegar ao seu palácio na manhã seguinte.
A primeira coisa que fez foi mandar libertar o conselheiro:
- ...e vê lá tu! Não fôra o meu dedo cortado, não estaria aqui hoje. Afinal sempre tinhas razão e devo-te uma desculpa.
- ... ... Mas espera, quando te prenderam, também disseste o mesmo. Explica-me lá porque é que foi bom teres ido para as masmorras...?
- Bom, vossa Majestade sabeis como ando sempre convosco quando ides caçar. Se não me tivésseis mandado encarcerar, eu ontem teria ido caçar convosco. Ter-me-ia perdido juntamente convosco e teria sido capturado juntamente convosco. Vós terieis sido libertado de qualquer modo, mas vede, vossa Majestade, eu sou um ser completo, não me falta nenhum bocado e não teria regressado convosco esta manhã!