
O que aparentemente é uma questão banal e instituída socialmente, consiste num dos maiores paradigmas relacionais e está associado a muitos divórcios ainda na era actual. Trata-se do encontro e adequação do papel dos pais no casamento dos filhos.
Teoricamente, com a idade adulta, os filhos passam a ser responsáveis pelas suas escolhas, pelas pessoas com quem convivem e se envolvem, pelo seu dinheiro e profissão. Esta liberdade confere aos filhos, o direito de assumirem as suas opções e de não permitirem as interferências parentais.
Contudo, na prática, as coisas não são bem assim! Por um lado, há filhos muito dependentes dos pais e, nem o casamento lhes permitiu o processo de desvinculação, por outro, há pais tão autoritários que, não aceitam as opções dos seus descendentes e interferem na sua vida conjugal.
Tudo começa desde que nascemos e recebemos as influências do meio. A rapariga constrói o modelo do pai, do irmão e de outros elementos masculinos dados como ideais para um futuro marido. O mesmo acontece com o rapaz e a mãe, a avó, a irmã ou outras influências femininas. Quantas mais pessoas do género oposto se conhecer, mais abertura intelectual teremos e mais facilmente nos ajustaremos numa relação.
O primeiro namoro precisa de ser “aprovado” pelos pais que, supostamente saberão quem melhor se adequa à vida do filho e, com esta atitude ingénua, os filhos estão a mostrar que não são capazes de fazer as suas escolhas. Este facto dá abertura aos pais que, de imediato, se assumem como protectores incondicionais e não sabem quando devem assumir um novo papel.
A ideia de fragilidade dos filhos e que eles serão eternas crianças, está aqui bem presente. Claro que, no casamento, o traço continuará e, daí os problemas e as “colheradas” no seio do casal!
Uma solução começa pelos filhos perceberem que têm essa responsabilidade, que só depois de aceitarem a pessoa em causa é que deverão apresentá-la aos pais como sendo a sua escolha, mesmo correndo o risco de errar e de mudar mais tarde, pois nada é absoluto ou perfeito. Com esta postura, naturalmente os pais percebem que os filhos cresceram e procuram outros centros de interesse para si. Eis que começa o processo de desvinculação que é: aceitação e respeito entre pais e filhos, mas cada um segue o seu percurso de vida, com a manutenção dos laços afectivos.
Os pais não terminam no casamento dos filhos, nem estes só evoluem com a autorização parental. Há um corte necessário na forma de se encararem mutuamente. O rapaz deverá manter a sua relação com os pais que, no fundo são as suas referências e a rapariga igualmente alimentar a relação parental, mas o novo elemento não deverá expor-se a essa transformação. Com o tempo e a reestruturação familiar, naturalmente a nora e o genro passarão a ser aceites, mas é um processo gradual e, nem sempre fácil e óbvio.
O novo elemento deverá concentrar-se na pessoa amada e não nos sogros, pelo que a distância é uma boa opção até que exista consistência relacional e alguma confiança adquirida. Lembre-se de que, primeiro os pais têm de se adaptar à ideia do filho adulto, só depois terão capacidade para aceitar a sua escolha amorosa, por isso, não se envolver no seio familiar é um truque com bons resultados, senão poderá comprometer o casamento mesmo sem que dele tenha tirado partido!
Ao mesmo tempo, o filho precisa de se contextualizar da ideia de casado e de saber como vai lidar com os pais. Sem que se pense no assunto, é aqui que reside a base do casamento bem sucedido: separar os papéis para que se construam de uma forma mais amadurecida.
Muitos casais não chegam a consolidar a relação pela necessidade de aprovação dos pais. Não há erro maior, pois afinal quem é que vai viver com a pessoa?! Ao mesmo tempo, a ideia de que o “filho merecia melhor” é outro estigma que limita a acção da nora ou do genro, pois os pais fazem um retrato de quem gostariam para os filhos.
Este processo é tão normal que os filhos deverão proteger-se, pois caso contrário, terão muitas dificuldades em viver uma relação estável e duradoura. Não cabe aos pais saber como agir, mas sim aos filhos dizer como desejam ser tratados na idade adulta e depois de casados…
De Madalena Dias,
http://www.emspublinet.com/index.php?article=10016&visual=8&id_area=1&layout=20
De Madalena Dias,
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