Olá meus amigos, visitantes assíduos, perdidos ou curiosos. Com esta publicação vou expor partes da história da minha vida até ao momento desta publicação. Podia começar a escrever algo parecido a um diário, mas seria um pouco entediante e sem grande interesse. Decidi então associar às partes as respectivas músicas, sendo as mesmas uma chamada à recordação, ao momento vivido. Não será muito longo o texto, apenas o suficiente para imaginarem aquilo que passei, aquilo que recordo. Acho que toda a gente faz esta analogia, as músicas não são mais que lembretes, marcas, estados de espírito ou o que lhe queiram chamar. Podemos recordar bons ou maus momentos e, quantas vezes, elas alteram o nosso estado de espírito, a nossa disposição, os nossos desejos. Quem sabe algumas destas músicas não são importantes também a vocês? Como sabem estas coisas acontecem, seja em casa, no carro, em salas de espera , no trabalho ou onde quer que se ouça música. Por isso lembrar-me e associar as mesmas é um pouco difícil, o impacto não é o mesmo, pelo menos para mim. Ainda assim seguem as que me lembrei:
Zeca Afonso, Grândola Vila Morena
Acho que esta é a primeira música que fixei, aquela que vai mais longe na minha memória. A música foi grava em 1971, o ano em que nasci, portanto ainda posso dizer que vivi nos tempos da outra senhora, ou do outro senhor. Na altura percebi que era uma música emblemática e que simbolizava algo, apenas mais tarde soube que foi a música escolhida pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) para ser a segunda senha de sinalização da Revolução do Cravos ás zero horas e vinte minutos do dia 25 de Abril de 1974. Não sei bem que idade tinha para esta associação, mas lembra-me a primeira casa onde morei com os meus pais e a turbulência que se sentia nas pessoas.
Música Clássica, Fúnebre
1980 foi um ano de acontecimentos históricos. Uma das associações que tenho é que quando ouço música clássica, tipo fúnebre ou do mesmo género, vem-me à ideia a passagem incessante de uma notícia na televisão. Mais tarde soube que ocorreu o terramoto nas ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa no arquipélago dos Açores. As imagens eram terríveis, a desgraça e a dor das pessoas entravam-nos pela casa a dentro a toda a hora. Lembro-me do constante apelo ao apoio popular na ajuda às vitimas.
Série: As aventuras da Abelha Maia
Acho que todos se lembram desta música, eu lembro-me bem. A estreia da série na Alemanha foi em 1976, portanto em Portugal deve ter sido mais tarde. Associo esta música a uma recordação da sala onde morava com os meus pais. A mesa ao centro, as cadeiras, a televisão a preto e branco e… uma semana sem programação infantil. Presumo que esteja a recordar factos de 1980 à data da morte de Francisco M. L. de Sá Carneiro em 4 de Dezembro do mesmo ano. Sei que durante uma semana a RTP apenas transmitia as cerimónias fúnebres e dava a notícia incessantemente. Lembro-me bem que estava lixado da vida com isso, não percebia bem o que estava a acontecer nem o que significou.
Séries: Dallas, The Love Boat, Battlestar Galactica, Sítio do Picapau Amarelo, Verão Azul, etc
Todas estas séries me levam aos tempos do Penteado. Para quem não sabe fica no concelho da Moita, distrito de Setúbal. Foi por lá que passei praticamente todos os fins de semana da minha infância e, diga-se, da minha adolescência. Bem cedo, os meus pais compraram um terreno por lá, para onde iam após uma semana de trabalho no Barreiro, na antiga Bonfim em que hoje as suas instalações estão ao abandono e o terreno à venda. Por lá, pela Bonfim, passei também a minha infância e adolescência. Mas voltando ao Penteado, todas a séries acima indicadas, e tantas outras mais que não me recordo de momento, levam-me às manhãs e tardes, ora deitado, ora sentado, no anexo que ainda hoje existe e onde actualmente moram os meus pais. Lembro-me do verão e dos dias de imenso calor, do inverno e do frio de rachar, da lareira na cozinha pequenina, da caixa de cartão transformada em castelo onde habitavam bonecos pequenos. Lembro-me dos banhos no tanque do avô do Pedro e do Ricardo, do meu amigo Rui, do Jó e do seu irmão mais velho Filipe. Lembro-me dos grandes almoços em família, quer na casa dos meus pais, quer em casa do meu tio Saul que faleceu este ano. O Penteado está muito marcado na minha vida, foram muitos anos por lá, inclusive nas férias dos meus pais e na vida deles. Hoje em dia vou lá de tempos a tempos e, pouco a pouco, a cada dia que passa, o local transforma-se e as pessoas que conhecia vão morrendo, bem como alguns amigos há muitos anos que não lhes ponho a vista em cima. A vida continuou para todos…
Continuando, a década de 80 foi muito marcante na minha vida e vou só dar exemplos de algumas lembranças:
Rod Stewart 1982, Absolutely Live
Este álbum ao vivo de Rod Stewart leva-me aos tempos das arcadas num prédio do Barreiro, perto do café Piratão, que não sei se ainda existe. Nessas arcadas jogávamos aos “becks”, dois toques e chuta. Ainda fugi algumas vezes de lá a correr, quer fosse pelos vizinhos irritados com o barulho, alguns mitras que apareciam por lá e queriam roubar a bola ou mesmo aviar a malta com porrada. Nessa altura andava com o pessoal dessa zona e lembro-me do Telmo e do Edmar, irmãos pretos que eram uns porreiros, se bem que o Edmar era meio marado. O Rui Azevedo que era meu colega de turma na Escola Secundária Alfredo da Silva, do João a quem a malta chamava “algas” não sei bem porquê, do Nilton, do Nini e do João Godunha. Na altura o “algas” namorava com uma rapariga que andava no “Alfredo”, a escola, e ao grupo juntou-se a Célia e a Paula, onde a ultima hoje trabalha na PT, como eu. O episódio que me lembro é de andar a tentar ter algo com a Célia, o que resultou num fracasso pois no final andou com o Nilton. Soube mais tarde que a Paula até gostava de mim e eu, cego, nem dei por nada. Mas estas músicas associam-me a esses tempos de convivência com malta que era muito mais à frente.
Polystar 1985, Dire Straits, Supertramp, Heróis do Mar, Bryan Ferry, etc
Ao som desta colectânea, que rodou e rodou pelo gira-discos quase até gastar, passei eu muitas horas deitado na cama, simplesmente a ouvir as músicas. Era um não fazer nenhum e na altura o que eu curtia era não ter de estudar, gostava mesmo era olhar a tarde toda para as gajas da rua através dos buracos das persianas.
Propaganda 1985, Duel
Pink Floyd 1987, A Momentary Lapse of Reason
Esta música leva-me até uma viagem com os meus pais à terra do meu pai, Santiago de Cassurrães em Mangualde. Como eu raras vezes saia esta foi uma viagem bem fixe pois na mesma altura juntaram-se por lá todos os tios. A malta mais nova ficou em casa do meu primo Jorge, filho de tios emigrantes na Alemanha. Ele estava muito à frente e tinha uma discografia invejável. Esta música foi uma das muitas que ele me gravou de LP para cassete, tal como o álbum dos Pink Floyd em causa. Também nessa visita fui à discoteca Day After e a uma Rave numa discoteca em Tondela, que não me lembro o nome. Foi em grande…
Simple Minds 1985, Don't You (Forget About Me)
Esta música levava-me sempre a simular o baterista pois adorava a batida.
Tears for Fears 1985, Everybody Wants To Rule The World
Time Bandits 1985, Endless Road
Estas lembram-me idas à praia do Barreiro, concretamente ao moinho onde com as meninas jogávamos ao bate pé.
Europe 1987, The Final Countdown
Esta marca uma época no “Alfredo”, cada intervalo das aulas era marcado por ela na sala de convívio. Também era a música associada à equipa de futebol da nossa turma, que não me lembro o nome. Eram só craques do Barreirense pelo que eu joguei em outra equipa, os 100 Catarro.
New Order 1986, True Faith
Bon Jovi 1986, Livin on a Prayer
Duas músicas que me lembram as tardes em casa da Irina, uma colega de turma da minha prima Xana.
Berlin 1986, Take My Breath Away
Esta música de 1986, do filme Top Gun, é a música dos meninos, ou seja, minha e da Ana, a minha Mulher desde há muitos anos. Claro que não preciso dela para me lembrar do que seja, “quase” todos os momentos com ela são bons, além de companheira é e sempre foi a minha melhor amiga. É um miminho nosso…
Marillion 1988, The Thieving Magpie
Álbum ao vivo desta banda que adoro e que um colega de turma, o Sergio que morava na minha rua, me gravou de LP para cassete. Passei muitas noites a ouvir estas músicas no meu primeiro e único walkman da Sony. Era vermelho e tinha um som dos diabos.
Right Said Fred 1992, I'm Too Sexy
Esta música é a que me lembro da primeira vez que fui a uma discoteca, foi no Barreiro na Discoteca Magic. Tinha 21 anos.
Everything but the Girl 1994, Missing
Esta dança-se sempre, mesmo sem vontade. Não marca nada especifico, mas sempre a adorei.
Tiesto 2004, Just Be
Esta é a minha música, aquela que me dá força e me lembra sempre que temos de ser quem somos. Não podemos nunca cair na tentação de viver a vida atrelados a quem quer que seja. Acreditem que assim a vida tem muito mais sabor.