segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Free Run


Existe um termo no mundo das telecomunicações designado “free run”, ou melhor, sem qualquer fornecedor ou fonte de relógio. Por norma, as redes de telecomunicações têm preferencialmente uma única fonte de relógio de referência, e deverá ser válida e fiável. Tenho escrito sobre vários assuntos que me ocorrem, preocupo-me no entanto por expor os mesmos criando variadas analogias, fiáveis. O termo, traduzido á letra, diz tudo sobre o ponto onde vou querer chegar, corremos sem qualquer referência, pelo menos válida e muito menos fiável. Ainda hoje, durante a hora de almoço, eu e os meus colegas debatíamos sobre o estado actual da sociedade e falou-se muito de capitalismo e de “Zeitgeist”.

Sobre o capitalismo já quase toda a gente falou, a fundo ou não todos têm opinião formada sobre o assunto, no entanto acho que andamos todos um pouco enganados. Há muitos anos atrás o capitalismo era a tábua de salvação mundial, quem já não ouviu a celebre expressão “o sonho americano”. No fundo o capitalismo é uma ideologia como qualquer outra, a experiência assim o diz e o resultado também o comprova. Sempre se promovem com boas bases, sustentadas ao bem estar da sociedade, com bom fundo e como objectivo principal a elevação da raça humana. Com os meus 38 anos, vivendo quase sempre sobre a alçada do dito capitalismo, já não vou tendo dúvidas sobre o eminente colapso do mesmo. Como sempre a ideia até não é má, mas a derivação sofrida ao longo dos tempos e a constante lacuna humana a incrementar ruído e a desviar o processo vão dar mau resultado. Não o digo por ter aderido a qualquer outra ideologia, elas existem e a espaços começam a surgir seguidores e pregadores das mesmas. Desde soluções ligadas à religião, ao humanismo, até mesmo o recurso a uma terceira guerra mundial, não me parece existir em qualquer delas uma única solução. O que pretendo dizer é que estamos mesmo “lixados” e reforço que maus tempos virão, não acredito que a situação se resolva a bem, infelizmente.

Quanto a Zeitgeist acho melhor não falar sobre o assunto, quem quiser que pesquise na internet ou o faça da forma que achar mais apropriada. Já me habituei a esquemas de contra informação e a duvidar de tudo e de todos, já nada tem o selo de “verdade” e agora optei por ouvir o meu instinto… só vendo é que acredito. Sei que é triste chegar a esta conclusão, no fundo não preciso ir muito longe para verificar o actual estado da sociedade. Na conjuntura actual recupera-se de uma grave crise financeira, mas no fundo e se pensarem bem a mesma não passou de uma triste brincadeira. A sociedade em si abanou, algumas pessoas sofreram e sofrem os seus efeitos, já alguns beneficiam com os mesmos. É o capitalismo no seu estado mais puro: débito/crédito.

Poderão perguntar, e bem, se existe alguma solução para evitar o anunciado colapso da actual sociedade. A maioria das pessoas diria que sim, existe sempre uma solução para tudo, o que acaba por ser verdade, nem que seja porque se quer ser optimista e se tem esperança que tal aconteça. A minha resposta é invariavelmente negativa, se me questionarem sobre o assunto não vejo qualquer solução válida nem praticável nos próximos tempos. Geralmente os sistemas são ensaiados em modo reduzido, testam-se pequenas amostras que poderão servir de base a decisões, ou a conclusões. No meu banco de ensaio, a minha observação ao modelo onde estou enquadrado dá-me resposta imediata à pergunta. Não vejo em nada nem em ninguém qualquer referência maior que me chame a atenção, que me faça seguir determinado caminho, apenas sobrevivo no meu cantinho. Como pessoa tenho os meus valores, aprendi-os á minha custa e agradeço a muita gente a pessoa em que me tornei. O meu fio condutor passa pela minha própria pessoa e pelos meus entes mais queridos, até por alguns amigos que muito estimo. Nada de novo foi dito, assim sou eu e praticamente todas as pessoas que habitam neste planeta. A vida é curta, nunca se sabe o dia de amanhã, os nossos filhos terão de se desenrascar e não vale a pena chatearmo-nos com isto. Quando a coisa der para o torto irei defender-me como puder, a mim e aos meus, não irei olhar a fronteiras nem a qualquer espécie de compaixão humana. Somos assim e este é o nosso estado mais puro.

No fundo terei de chegar a esta modesta conclusão, o homem e a sua sociedade trabalham em modo: free run!

1 comentário:

teresa disse...

Caro amigo,

se bem entendi a analogia com o termo "free run", usado em telecomunicações, e se já estamos mesmo a funcionar nesse "modo", é assustador, porque cada um pensará apenas em si próprio, nos seus objectivos às vezes mal definidos, centrados a curto prazo, ou nem isso, tal é a descrença no futuro. E nunca mais haverá espaço para os limites, para os valores adquiridos de que falas; Deixarão de o ser, serão pura e simplesmente "desvalorizados". E aí, estará irremediavelmente perdido aquilo que nos define como seres humanos. Perdida a fé na própria natureza humana, é o "free run", sem rumo certo, que nos levará à perdição.