Hoje li uma reportagem sobre a minha cidade, o Barreiro. Decidi então escrever e dedicar umas palavras à minha terra mãe, aquela onde nasci e vivi durante 37 anos. Sempre achei que era uma cidade diferente de todas as outras, pelo menos neste nosso modesto pais. A CUF, actual Quimiparque, foi sempre um ponto de referência para todos os barreirenses e é parte integrante, senão a principal, da história da cidade. Sei que a sua origem remonta de uma aldeia de pescadores e a sua história também tem a influência do rio Tejo. Para mim, nascido em 1971, ainda vivi parte integrante desta querida cidade. Os meus pais trabalhavam na Bonfim, mais tarde integrada na EDP onde dentro dos seus muros vivi a minha infância, vivendo desde cedo em ambiente “fabril”. Lembro-me de conversas sobre a PIDE, comunismo, pressões e algumas escaramuças. Lembro-me de como era difícil a vida dos meus pais, trabalhando no duro para sustentar a casa, saindo com a minha mãe de madrugava acompanhando-a, a brincar, nas limpezas. O meu pai começou na “pá e picareta” a abrir vala, passando mais tarde para a carpintaria. Fui o menino da Bonfim, o Costinha pequenino como me chamavam por lá. Fui acompanhando a vida daqueles trabalhadores, amigos, em que a espaços vou sabendo da morte de uns e outros, tal como o meu querido pai também já foi… Lembro-me bem, como se fosse hoje, dos “gazes”, do famoso nevoeiro de enxofre e amoníaco que cobria muita vezes a cidade. Lembro-me das pessoas se queixarem que as marquises das varandas eram corroídas mais depressa na minha cidade. Lembro-me do comboio, das estações do Barreiro e Barreiro-A, das linhas que cruzavam e dividiam a cidade, de admirar as locomotivas, de sentir os seus cavalos puxarem as carruagens onde tantas vezes andei. Lembro-me das praias onde tantas vezes esperei saltar nas ondas formadas pelos antigos barcos. Lembro-me do cheiro a maresia, do lodo, das garrafas de óleo e de tantas outras coisas que estavam no rio onde toda a cidade se banhava. O mesmo rio onde hoje, mais limpo, ninguém se banha pois certamente morreria (risos)… não sei como estou ainda vivo, tal como milhares de pessoas da minha cidade, pessoas daqueles tempos. Foi no Barreiro que me instrui, que aprendi a ser Homem, nas selváticas escolas da cidade onde comecei na escola nº 7, depois Mendonça Furtado e finalmente no Alfredo da Silva. Foi no Barreiro que me apaixonei mais vezes e onde a paixão me agarrou, foi lá que conheci a mulher da minha vida, foi lá que casei. Os meus melhores amigos são do Barreiro, são gente como eu, sempre muito à frente numa cidade que todos acham hoje estar muito atrás. Os “gazes” praticamente já se foram e na orla costeira barreirense podem-se ver esqueletos de uma história linda, de sucessos e insucessos, de trabalho e suor, de um coração que vai parando de bater, tal e qual os das gentes que por lá trabalharam. Dizem que é um dormitório de Lisboa, mas quem lá vive sabe que não é bem assim, sente-se vida no ar e uma energia potencial enorme. E o Barreirense, a Quimigal, o Luso, entre tantas outras colectividades desportivas da cidade que em tempos alimentaram a nossa selecção? Está tudo lá, pena não existir o museu da cidade. É feia? Não! Para mim é a cidade mais linda que existe no mundo inteiro… é a minha cidade. O meu Barreiro!
segunda-feira, dezembro 06, 2010
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1 comentário:
Confesso que estou entre aqueles que já disseram que é uma cidade "feia"... Mas hoje, depois de ler o teu post,vejo o Barreiro sob outra luz, vejo-o através dos olhos dos que o amam, como tudo, afinal, deve ser visto.
Flui, uma vez mais, da tua escrita, a tua inteligência e sensibilidade.
É uma crónica magnífica, emotiva, comovente, notável. Francamente bonita. Como o Barreiro.
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