
Durante os últimos anos tenho assistido, calmo e sereno, ao desenrolar de todo o processo de globalização. Desde os apologistas aos cépticos, ambos têm merecido a minha atenção, bem como a sua repercussão no terreno, concretamente a sua influência a nível das sociedades e mesmo a nível pessoal. Se para os apologistas este processo, sem qualquer dúvida, seria benéfico para a humanidade melhorando assim a nossa vida a todos os níveis, já os cépticos sempre pretenderam demonstrar os efeitos catastróficos do mesmo. Gosto de estar sempre ao corrente de tudo o que se passa por este mundo, estar informado para não ser surpreendido ou viver na ignorância.
Considero as vertentes, económica e de comunicação, como as mais importantes e mais influenciadas por esta nova era. São visivelmente as mais mediáticas e aquelas onde os seus efeitos se sentem nos nossos dias, na actualidade. Como é meu hábito tomei uma posição, neste caso favorável, sempre defendi este processo, contudo mantive sempre as minhas reservas. Chego á conclusão que fui atraído, ou melhor, aliciado pela facilidade e rapidez com que a informação passou a estar disponível. Acabei por destacar só esse ponto ao meu modesto requisito de exigências ao processo. Esse mesmo acesso a tanta informação, fiável ou não, acabou por também lançar toda uma série de questões até antes ignoradas. Começo a ter as minhas dúvidas quanto ao real propósito do processo, pior ainda, começo a ponderar a hipótese de o mesmo não ser inocente.
Não é novidade e actualmente vivemos e sentimos na pele uma das maiores crises dos últimos tempos. Os mercados bolsistas, agora ainda mais globalizados, estão a ruir e a viver á custa da especulação, nomeadamente á custa de bens essenciais de consumo. O petróleo, a nível energético, bem como os cereais e outras colheitas alimentares, são alvo de valores recorde de acréscimo de custo. Se um é finito, referindo-me ao petróleo, compreendendo-se assim a sua “salvaguarda”, já outro é infinito e está preso a cotas de produção. A grande certeza que já tenho é que a globalização económica não trouxe nenhum beneficio á sociedade, aliás a espaços, rebentam por aqui e por ali focos de insatisfação e violência. A corda estica cada vez mais para as famílias, penhorando-se no seu bem estar e nas suas necessidades. As empresas deslocalizam-se a uma velocidade alucinante, sendo fácil “dispensar” quem delas depende, aliado também ás recentes reformas nos contratos e estatutos dos trabalhadores. Vejo no entanto que alguns, algumas, mas muitas entidades estão a lucrar bastante com esta situação.
Ao nível da comunicação, nomeadamente e onde destaco o acesso e expansão da Internet, bem como o constante desenvolvimento das telecomunicações e dos média, acabam por ser uma faca de dois bicos. No fundo a nossa vida encontra-se agora facilitada, trata-se na realidade de um grande beneficio, e sem sair de casa podemos ter acesso a tudo, pedir tudo, consultar tudo, ou quase tudo. Em frente ao computador ou á TV estamos “presos” e “encalhados” na era digital e global. Andamos a falar, a conversar, a ver-nos uns aos outros, e tudo isto de forma virtual. A humanidade ganhou proximidade de comunicação, penso no entanto, estar a perder a proximidade sentimental e afectiva, bem como a união entre as pessoas. Por tudo isto, aqui também começo a duvidar da inocência de todo este processo. Ocorre-me frequentemente a expressão: “Dividir para reinar!”.
Apenas pretendo com este post levar todos a reflectir e pensar seriamente nos indicadores recentes, nas noticias encadeadas que por aqui e por ali vão enchendo os nossos ecrãs. Gostaria que todos olhassem para dentro dos seus lares, para as suas vidas, para o mundo exposto e acessível. Nada disto me agrada, pode ser um pressentimento meu, posso estar a ser pessimista, a vida corre-me mal. Mas sei que não é verdade e apenas eu esteja com os olhos bem abertos. Não passei a estar contra a globalização mas sim como o processo se desenrola, não tem nada a ver com aquilo que li sobre o assunto, com a mensagem transmitida. Por isso , como cidadão e pessoa sinto-me defraudado.
No fundo e infelizmente, acabo por concluir, ainda com o processo a decorrer, que na verdade o Homem globalizou-se… afastando-se!