segunda-feira, dezembro 28, 2009

Isto sim, é serviço público.


Antes do final do ano, para acabar em grande, gostaria de partilhar mais um e-mail recebido. Não apurei se a fonte é real ou é simples anedota, no entanto para qualquer das hipóteses não deixa de ser hilariante. Verídico, ou não, a história remonta a tempos antigos e ocorreu no nosso maravilhoso pais. Digamos que é a cereja em cima do bolo, facto que relaciono com tudo aquilo que este ano comentei em relação ao sector público português, nomeadamente em relação à justiça. Segundo indicação no e-mail, trata-se de uma sentença proferida em 1847 no processo contra o Prior de Trancoso, fonte do Arquivo Nacional da Torre do Tombo:

Autos arquivados na Torre do Tombo, Armário 5, Maço7
“Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos. Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres”.

Agora vem o melhor...
“El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou por em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de 1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo, e guardar no Real Arquivo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo”.

Tal como nos dias de hoje, isto sim, é serviço público.

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Boas Festas em 2009

Cá estamos de novo a chegar ao final de mais um ano, já começaram os preparativos para a quadra natalícia e posteriormente a passagem para o novo ano. Para mim é altura de fazer contas, verificar se os objectivos estão cumpridos e detectar onde ocorreram falhas, se existirem claro. Sempre fui ouvindo, aqui e ali, que este seria uma ano de mudanças, chego agora ao final e na parte que me toca não posso deixar de concordar, elas de facto ocorreram. Ainda não acabou, está quase, mas pelo menos até agora as mudanças foram positivas e alguns objectivos foram cumpridos, acho que trabalhei bem.

Profissionalmente consegui um objectivo que estava pendente desde o ano de 2005, concretamente desde o “malvado” mês de Julho. Foram necessários quase 4 anos para ser transferido de departamento e de serviço, o empenho foi feroz e por vezes arriscado, mas foi essencial. À data de hoje tenho um “horário fixo”, trabalho num projecto aliciante que acabei por ser eu mesmo a criar, e faço o que gosto: programação. Apesar de não ser a minha designação de carreira na empresa, agora sim, sou Analista e Programador Informático. Sinto-me bem!

Financeiramente, com objectivo que também já vem pendente de há alguns anos, não existiu evolução “palpável”, no entanto algo mudou e já posso sonhar. Não vale a pena dizer quantos anos de pendência pois deixa-me um pouco angustiado, agora essa angustia foi suprimida e aliviada pois existe a possibilidade de evoluir nesse campo. Se a mudança profissional melhorou, e muito, a minha qualidade de vida, financeiramente não existiu nenhuma melhoria agregada, nenhuma mais valia. Quem me conhece sabe que tenho tudo certinho em ficheiro Excel, e nesta fase os números são animadores pois reduziu-se na despesa, o que é excelente!

Espiritualmente, o ano foi evoluindo em crescendo de confiança e em auto-estima, a todos os níveis mensuráveis as melhoras são notórias… sinto-as. Também desde 2005 que trabalho/penso no sentido de me melhorar, basicamente evoluir ao nível do processamento mental, aliviar a pressão, deixar fluir. A minha família, nomeadamente a minha mulher e a minha filha, são pedras basilares no meu bem estar, estão lindas e são as mulheres da minha vida. Este ano foi também repleto na aquisição de novas amizades, algumas importantes e de valor acrescido, por outro lado existiram alguns afastamentos. Agradeço a todos, aos mais recentes e aos que, por este ou aquele motivo se afastaram mais, são todos importantes e fazem parte da minha vida.

Fica aqui o meu relatório anual, parecendo-me positivo, e desejo a todos Feliz Natal e Bom Ano 2010.

Joaquim Costa

segunda-feira, dezembro 14, 2009

O que define a felicidade? (Parte II)


No passado fim de semana recebi o seguinte comentário ao post “O que define a felicidade?” que escrevi em 05 de Maio de 2008:

Bruno disse...

Meu amigo, eu tenho 14 anos moro com minha mãe e meu padrasto tenho uma casa grande, video-game, internet, poucos amigos mas em certos momentos eu fico feliz esses momentos sao quando estou com meus amigos. Em minha casa eu nao sinto uma gota de felicidade, eu sintia muito tédio mas agora eu sinto é tristeza. Minha mãe quer me por em um internato, eu estou louco para ir lá por que aqui eu não tenho nada a fazer e com quem a conversar. Acho que indo para lá ficarei mais feliz. Bom isso nao foi um comentário mas sim um grande desabafo para mim muito obrigado!

Hoje, 14 de Dezembro de 2009 respondi-lhe o seguinte:

O último comentário, ou melhor, o desabafo do Bruno deixou-me muito comovido. Não esperava hoje chegar aqui e ouvir estas palavras de um rapaz de 14 anos. São palavras muito sentidas, denotam um sofrimento silencioso (penso) e ditas com grande sentido de maturidade. Tenho uma filha que fez recentemente 7 anos, sei que não sou um pai perfeito mas sinto que lhe dou amor e carinho. Lamento a sua situação mas a vida por vezes surpreende-nos. Quem sabe um destes dia volta aqui e tudo mudou? Para melhor? Faço votos para que isso aconteça! Abraço e boa sorte...

Passou um ano e meio após publicar o meu post, muita coisa mudou desde essa data, quer na minha pessoa, que em todo o mundo. No meu caso pessoal posso afirmar, porque o sinto, que estou bem melhor comigo e com o mundo. O tempo, ou o passar do tempo, é o melhor curandeiro. Hoje para mim a felicidade poderá continuar a ser uma equação da vida, no entanto certas variáveis começam a deixar de fazer sentido. Como diz o Bruno, por muito que se eleve uma variável, por exemplo de bens materiais, o resultado final será sempre inferior ao que na realidade pretendemos. Ele responde, e certamente gostaria, que se elevasse um pouquinho só uma variável sentimental, como o amor por exemplo, para já se obter um resultado satisfatório.

A minha resposta ao Bruno foi o que desejei no momento, que todos estes cenários já tivessem acabado. Não me surpreendeu, infelizmente sabemos que existem muitas crianças, adolescentes e também muita gente adulta que não recebe amor. È trágico, mas cada vez mais uma certeza que o ser humano carece de amor, estando o mesmo a ser substituído por outros “adereços”. Não se chegou aqui, a este ponto, de forma inocente. Mas não é aqui e agora que irei falar sobre isso…

Dedico este post a um rapaz de 14 anos, ao Bruno, a quem apenas posso escrever e a quem digo que existe muito amor no mundo, para dar e receber. Se em tua casa não existe essa relação, quem sabe no internato não encontras a felicidade? Não percas o amor que tens dentro de ti, nem percas o amor pelo mundo. Um dia terás a oportunidade de ser pai, podes dar aos teus filhos todo esse amor que tens guardado dentro de ti. Podes também começar já a dar amor ao mundo, acredita que não estás sozinho e à tua volta alguém pode também precisar de ti.

Deixo-te estas palavras de esperança, deixo-te também um abraço (), com amor e amizade, fecha os olhos e sente-o.

Convido a todos os que por aqui passem a deixar uma mensagem ao Bruno,

Com amor por favor,

terça-feira, novembro 24, 2009

A Justiça no fio da navalha


Ontem, 23 de Novembro de 2009, assisti ao programa televisivo Prós e Contras. O debate tinha como tema base o actual estado da justiça em Portugal, como bem demonstra o titulo do programa. Foi apresentado pela jornalista Fátima Campos Ferreira, e ontem fiquei particularmente satisfeito com a sua abordagem e moderação. Ontem foi bastante profissional, dirigiu bem as intervenções e focalizou a sua intenção na percepção do debate para o público em geral. Apenas lamento a janela horária em que o mesmo foi transmitido, infelizmente já nos habituámos à colocação destes programas fora do pico máximo de share televisivo. A mensagem passa, o objectivo é cumprido, mas a grande maioria dos portugueses fica isenta dos mesmos. Só fica acordado até esta hora quem se preocupa mesmo com o actual estado do nosso pais. O painel de convidados era composto por:

Ricardo Cardoso, Juiz Desembargador
Paulo Pinto de Albuquerque, Professor de Direito Penal
Germano Marques da Silva, Professor de Direito Penal
Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados

Como sabem, aproveito sempre um tema que me interessa e sobre o qual pretendo dar a minha opinião, vamos lá então…
Penso que não vale a pena enumerar os factos, eles estão presentes a toda a hora nos meios de comunicação social. Naturalmente, e tal como tinha previsto em comentários anteriores neste blog, a espaços um novo caso surge na praça dos média. O focus actual recai no processo, supostamente em fase de investigação e segredo de justiça, Face Oculta. Como também vem sendo hábito, ou começa a ser habitual, elementos da nossa classe politica encontram-se envolvidos na polémica. Não posso deixar de afirmar, é um facto, que o actual Primeiro Ministro José Sócrates está associado praticamente a todas estas questões. Também é verdade que a informação que circula pelos órgãos de comunicação social não tem qualquer credibilidade, ainda assim dá que pensar não?
Penso que a Justiça não anda no fio da navalha, virou mesmo um espectáculo circense em que a principal finalidade passa por desviar “as atenções”. Como em tudo na vida teremos de ir à base da questão, ao sector primário e consequentemente à matéria prima da questão. Vou tentar ser o mais sucinto e explicito possível nesta linha de pensamento.

A base da questão entendo ser o ponto de partida para as ingerências no seio da Justiça, nomeadamente o envolvimento de altas figuras do estado e do meio politico partidário em processos graves, polémicos e bastante mediáticos. Considero que o Processo Casa Pia foi o elemento inflamável para a rotura de uma relação, até aqui isenta e independente, entre os meios de justiça e o poder politico. No fundo, a dita classe até aqui intocável, estava agora à mercê da justiça onde membros notáveis se viam envolvidos em processos judiciais. Ora, como em qualquer outra classe, não sendo um exclusivo da classe politica, e pelo seu fundamento agregador e protector, defendeu-se ou tratou de se defender, a si mesma e aos seus, causando para já toda esta azafama em torno do mundo judicial. A promiscuidade começou logo pela urgente alteração das leis em vigor, executada em tempo recorde e aprovada na Assembleia da República. Por quem não interessa, o facto é que o parlamento fica assim associado a esta “conveniente” alteração de leis, onde acho que não será necessário apelar a um forte sentido estratégico para entender qual o “target“ escolhido. Este acto, principalmente este, considero-o uma declaração de guerra do poder politico endereçado ao meios da Justiça. Como em qualquer outra intenção de guerra, o principal objectivo politico passou pela tentativa de partir a espinha às magistraturas.

O sector primário, se me for permitido usar esta analogia, serão os cargos chave na nossa estrutura judicial. A figura do Procurador Geral da República e do presidente do Supremo Tribunal de Justiça são peças fundamentais em toda a estrutura, a primeira é preenchida com elemento indicado, ou recomendado, por órgãos políticos do governo vigente, já no caso da segunda a eleição é efectuada internamente, onde a componente politica já se encontra fortemente enraizada. Por este ponto não penso ser necessário enveredar muito, é básico no campo da gestão de recursos humanos rodearmo-nos de pessoas da nossa confiança. Já no campo da gestão o retorno esperado a estas pessoas é a fidelidade e até alguma gratidão, debitada claro está no exercício das suas funções. Mais palavras para quê?

Agora a matéria prima. Ela está presente e é visível todos os dias, está a ao dispor de qualquer um em tudo o que são noticias, crónicas ou debates, como o de ontem. Já o disse anteriormente e repito, a informação que por ai circula vale o que vale. Tudo passa agora pela violação, ou não, do segredo de justiça. Tudo, e ao mesmo tempo nada se sabe sobre tudo o que se diz ou é divulgado. Por entre ataques e defesas, tudo à luz do dia, na praça pública, de intervenientes em processos, de políticos e de magistrados, reina a confusão total. Cada cabeça sua interpretação da lei, tudo como ontem se viu, entre grandes amigos com grande amizades. O pior, a meu ver, é que a questão é mesmo grave, chegámos ao ponto em que, por entre muitos crimes que por ai se enumeram, se põe em dúvida e existe mesmo a possibilidade de ter existido um crime contra o estado de direito. Afinal o que se passa?

É tudo uma grande cabala contra elementos do governo?
Será espionagem politica?
Será tudo uma grande mentira?
Ninguém se entende?
No fundo ninguém acaba a defender a sua honra?
Não se conhece entrada de processos por calunia e difamação?
Passa tudo simplesmente por uma questão de share?

Muito mais haveria para dizer mas para terminar penso que a táctica é por demais evidente, dividir para reinar. A actual anarquia a que se assiste vai desviando a atenção dos portugueses, existem outros problemas bem mais importantes para resolver, mas é um facto que este problema da Justiça é gravíssimo. No meu caso particular, tenho total confiança nos magistrados judiciais e na sua competência no cumprimento das suas funções, a aplicação da lei. Agora uma coisa é certa, o termo democracia anda pelas ruas da amargura. Assim anda este nosso Portugal.

Vale-nos a qualificação para o Mundial de Futebol 2010 na África do Sul (risos).

sexta-feira, outubro 30, 2009

Relatividade


Como sabem tenho, aqui, deixado algumas opiniões sobre muitos temas que afectam a nossa vida. Tudo muito sério onde, a espaços, tento sempre colocar uma pitadinha de comédia. Também partilho um pouco da ideia que temos de levar a vida a brincar, desde e sempre q.b. Recebi recentemente um e-mail com uma situação possível, uma demonstração que na nossa vida tudo é muito relativo. A imagem (ao lado) também foi escolhida com algum rigor, propositadamente quero questionar se o senhor (doutor?) estará a consultar a paciente, ou será qualquer outra situação? Bem espero pela(s) vossa(s) resposta(s). Eu tenho uma pequena ideia do que possa ser, aliás é muito sugestivo e pode levar a enganos. Para ajudar o raciocinio junto a história que me levou a esta mensagem. Ora reparem na situação:

Ao fim da tarde, um ginecologista aguarda a sua última paciente, que não chega.
Depois de 30 minutos de espera, ele supõe que esta já não virá e resolve tomar um gin tónico para relaxar antes de voltar para casa.
Instala-se confortavelmente numa poltrona e começa a ler o jornal quando toca a campainha.
É a paciente que chega toda esbaforida e a pedir desculpas pelo atraso.
- Não tem importância - responde o médico.
Olhe, eu estava a beber um gin tónico enquanto a esperava. Quer um também para relaxar um pouco?
- Aceito com prazer - responde a paciente aliviada.
Ele serve-lhe um copo, senta-se na sua frente e começam a conversar sobre banalidades.
De repente ouve-se um barulho de chave na porta do consultório. O médico tem um sobressalto, levanta-se bruscamente e diz:
- A minha mulher! Rápido, tire a roupa e abra as pernas!

Fantástico…

quarta-feira, agosto 05, 2009

O novo estatuto de "Arguido"


Estava eu a precisar de um tema para escrever e hoje surgiu a tal luzinha, uma vez mais após um noticiário da TV. Começo então por dizer que neste nosso querido pais de brincar que se chama Portugal, onde há muito tempo atrás um notável senhor da história disse que não se governa nem se deixa governar, surgiu uma nova moda. Seria errado continuar sem alertar que esta nova moda não é uma novidade pela prática mas sim pela localização. A mesma já vem “embelezando” alguns continentes, onde assentam destacados os designados países do terceiro mundo, nomeadamente o africano e sul americano. O grande feito e fabuloso passo de importação modista, esse sim, pertence-nos, aos portugueses, pela mão da nossa habitual e criativa classe política. Conseguimos então, em democracia, livremente e ainda por cima num pais que pertence à União Europeia, criar por excelência o estatuto de “arguido”. Ora vejamos:

1. Segundo consulta a Wikipédia, a enciclopédia livre, no direito português, uma pessoa é constituída como arguida, um termo jurídico que não existe em muitas outras jurisdições no estrangeiro, quando recaem sobre si indícios de ter cometido um delito.

2. Continuando a consulta na Wikipédia, uma pessoa poder solicitar ser "arguida" porque beneficia de direitos que não tem como testemunha. Além da obrigatoriedade de ser acompanhado por um advogado nas suas declarações ante a autoridade policial, o que não sucede com as testemunhas, um arguido tem direito a não se pronunciar, negando-se a responder a perguntas já que com potencial suspeito age em sua própria defesa, e como testemunha estaria obrigado a responder a todas as perguntas.

Parece que pela aplicação da Lei o estatuto já não é assim tão mau, beneficia mesmo de direitos que não se têm enquanto testemunha de determinado processo judicial. Mas sejamos sinceros, sempre vivemos com isto assim e desta forma no universo da justiça, não é pois nenhuma novidade e também nunca ninguém se preocupou com isso. A grande novidade, que até já é não assim tão grande mas ainda assim muito recente, passa pela atribuição da condição de excelência por se ter estatuto de “arguido”, passando o mesmo não só a ser normal como a receber notoriedade social, bem como passou a ser requisito essencial em qualquer curriculum vitae. A palavra em si foi banalizada e deixou de ser motivo de vergonha, se é verdade que existe a suspeita, também é verdade que não foi ainda provada. Alguns e bem recentes casos de justiça, bem como outros já com uns anos, sendo todos eles bastante polémicos mas principalmente “bastante” mediáticos, levaram necessariamente os intervenientes, que foram constituídos como arguidos, a dar a volta ao texto. A vergonha deu lugar ao estatuto, a suspeição deu lugar à calunia gratuita, os média passaram a ter a tão e sempre desejada matéria prima noticiosa, moldando-a a seu belo prazer e sempre indexada ao “share”, ou seja, criou-se e gerou-se um “mercado” bastante lucrativo.

Curioso comparar a nossa elite política, entre outros que não são políticos mas ainda assim serão socialmente notáveis, com a de outros países na União Europeia. Se na maioria dos restantes países europeus, onde nem sequer nas suas jurisdições não existe o termo “arguido”, quando sobre determinada pessoa recaem indícios de ter cometido um delito a mesma automaticamente se afasta, ou é afastada. Em Portugal passou a ser factor ou requisito essencial para permanência reforçada em funções. Reparemos que até passou a ser condição essencial para elaboração de listas de concorrência a cargos políticos, bem como outros importantes cargos que por ai existem.

Estão a tentar, a espaços, politizar a magistratura judicial e o ministério público em Portugal, que “ainda” são órgãos de soberania. A céu aberto, a moda “arguido” segue imponente e alastra a seu belo prazer por este pais democrático mas sem vergonha. O povo, sempre o povo, sempre ignorante e apaixonado, vai-se deixando levar democraticamente por este dilúvio a aplaude efusivamente os actores em cena.

Eu também sou português, não sou nem nunca fui constituído “arguido” em qualquer processo judicial, nem tão pouco pretendo vir a ser. Se algum dia me acontecer posso afirmar, de acordo com a educação que tive, que irei afastar-me do meu meio e actuar discretamente pois vou ter vergonha… mesmo sabendo-me inocente.

É tudo uma questão de “postura”, uns têm-na... outros não.

quarta-feira, julho 15, 2009

Será o trabalho uma pandemia?


Um dos temas correntes e que marca a actualidade chama-se gripe mexicana, gripe A ou tecnicamente falando, uma nova estirpe do vírus H1N1. A situação actual tem vindo a evoluir negativamente, levando mesmo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a elevar para o nível 5 o alerta de pandemia. O nível 5 indica sinal forte de que uma pandemia está iminente, neste caso a ignorância ou a simples falta de informação pode-se traduzir em desgraça, nomeadamente danos para a raça humana a nível mundial.

Nada de novo, nada que quem minimamente se encontre informado não saiba, no entanto não foi essa a razão pela qual mais uma vez decidi publicar um texto. Apenas outra analogia me levou á escrita, a qual não pretendo que seja de mau gosto ou encarada de qualquer outra forma pela qual não vale. Voltando á gripe, sempre que o tema vem a lume, em conversa de rua ou nos média, a palavra “trabalho”, de trabalhar, surge no meu pensamento, dai a analogia. Costumo dizer que sempre, ou quase sempre desde a sua existência, a raça humana sofre de uma pandemia constante e que a afecta diariamente. Esta doença, tal como a gripe A, não afecta a totalidade da população e como sempre existem excepções. Já devem ter percebido que falo do “trabalho”, de trabalhar.

Esta doença vem acompanhando a raça humana desde a socialização da mesma e, tal e qual as gripes, também existem várias estirpes da doença. Existem também, penso que sendo raras excepções e ao contrário da gripe, alguns seres humanos gostam de estar doentes á qual se designa como estirpe workalholic. No entanto esta estirpe tende sempre a auto extinguir-se e não é motivo de qualquer preocupação adicional. Preocupante neste caso é que muitos seres humanos, a quem interessa, insistem em tentar pegar esta estirpe á população em geral. Ainda assim e por enquanto o ser humano ainda é auto suficiente na sua defesa nomeadamente em relação a esta estirpe.

Ao longo dos tempos alguns seres humanos, não satisfeitos pelo contágio da estirpe por conta de outrem, de certa forma para tentar amenizar o seu sofrimento, impingiram deliberadamente esta estirpe de forma encapotada e pela força arrastaram o contágio a outras raças animais. Ao contrário do ser humano as outras raças não têm direito a queixar-se e não se lhes conhece qualquer hipótese de cura. Ao invés, o ser humano pode sempre optar por outra estirpe sabendo de antemão, ou podendo calcular, quais serão os efeitos secundários a sofrer. Não existe penso, ou não se conhece na comunidade cientifica, qualquer estudo ou investigação a decorrer para criar uma vacina que cure esta estirpe, a qual é responsável pela quase totalidade de infecção da raça humana.

Poderia falar de muitas outras estirpes, acho no entanto que apenas vou referir mais uma, para a qual existem variadíssimas designações mas os sintomas são por norma os mesmos. As estirpes calão, burlão, de expedientes, ladrão, chupista, engraxador, alguns tipos de funcionários públicos, gestores, governantes, entre tantos outros exemplos, com as quais poucos seres humanos se encontram infectados mas que tanto afectam os restantes seres na sua generalidade. O principal problema desta estirpe é que os efeitos secundários são sempre impingidos a terceiros, geralmente aos que sofrem da estirpe por conta de outrem. Mas também neste caso não existe qualquer tentativa conhecida de se lhe conceber uma cura, muito também pela inexistência de queixa ou sofrimento dos infectados.

Agora, falando seriamente, o “trabalho” pode-se qualificar uma verdadeira pandemia dado que afecta a maioria da população mundial. Seja pelas designações acima descritas em tom de brincadeira, seja pela realidade dura e crua de quem trabalha. Deveríamos como raça humana e estando já no século XXI começar a olhar para esta realidade muito a sério. Questões como a qualificação, segurança, liberdade, competência, apetência, distancia, de entre tantos outros pontos de estudo sobre o trabalho, poderiam evitar toda uma série de efeitos secundários ao ser humano e para a qual esta nossa sociedade teima em fechar os olhos. Palavras como o stress, depressão, deficiente por acidente de trabalho, cancro devido ao trabalho, entre outros tantos males poderiam ser evitados e sem necessidade de recorrer a qualquer vacina. A raça humana necessita deste contágio geral para viver em sociedade, em todas as suas vertentes e com todas as suas estirpes, mas tal como a gripe deveríamos tentar e começar a tornear os efeitos que causam sofrimento crónico e vitalício para a maioria dos seres humanos.

Esta reflexão vale o que vale, trato apenas de partilhar mais um pensamento onde espero levar as pessoas a reflectir sobre a mensagem que tento aqui transmitir.

terça-feira, junho 09, 2009

Ocupação.


Dizem que não fazer nada e andar sem pressão é que é bom. A pergunta que fica no ar será, é verdade? Pela experiência que tenho não fazer nada e andar sem pressão é que é mau. Ao nível do processamento humano, presumindo o mesmo á minha imagem, quem não processa algo de útil, não está ocupado, irá começar a ocupar o tempo com outras funções.

A falta de ocupação cerebral leva a mente humana a criá-la, e se para uns dá-lhes para a utilidade, outros já se debatem com problemas sérios. A mera criação ou invenção, sejam ideias ou artefactos, levando muitos ao reconhecimento geral, considero-os como uma ocupação de escape útil, quer para o próprio, quer para os que o rodeiam, ou mesmo para a humanidade. Quantas soluções para tantos problemas foram assim resolvidos? Investigação de doenças, moleculares, sociais, filosóficas, entre tantas outras. Tudo porque alguém com tempo decidiu aplicar-se a uma ocupação cerebral útil, a si e aos outros por consequência.

Existe depois a outra face da moeda, a ocupação com a auto-destruição, cenários antecipados e deturpados da realidade, como que um complexo narcisista inverso. Nestes casos, a falta de ocupação cerebral dá azo ao pior que uma pessoa tem, tempo para pensar em si mesma. Sou inútil, gordo, faço tudo mal, mais isto e aquilo mal, e mais isto, e por ai fora. Entra-se numa sequência negativa em que nada se cria e tudo transforma, para pior claro. A auto avaliação não é para todos, geralmente não é saudável e leva a algo que esteja mal ficar ainda pior. Não fazer nada, em que para mim dou como exemplo trabalhar, e mesmo assim andar sem pressão, por exemplo a preocupação com a profissão ou ocupação, não é nada bom.

Segundo a minha própria experiência, andar sempre ocupado e sob pressão é uma maravilha. Não termos sequer tempo de pensar no que não interessa para nada, em que até nem queremos pensar nisso tão pouco, é um escape perfeito para uma cura. Admiro quem chega á cama e dorme logo, e se para uns é algo natural, outros apenas o conseguem de tão cansados estarem. Mas o certo é que dormem, uns e outros.

Muitas vezes dizem que o descanso é a cura para muitos males, nada é mais errado!

segunda-feira, maio 18, 2009

Lanzeira.


De vez em quando preciso de uma pausa no trabalho. Tem dias em que essas pausas não me chegam. Hoje é um desses dias. Estou a produzir, mas desejava que pudesse ter uma pausa, daquelas valentes. Daquelas em que fechamos os olhos e dormimos, descansamos, não fazemos nada de nada, apenas estamos. Além disso é segunda-feira, quem não sabe o que são? Sempre terríveis e custam a passar como o raio. O fim de semana, para variar, deixou as suas marcas. Volto a dizer que os trabalhos caseiros cansam mais. A malta queixa-se que trabalhar é do pior, eu não acho, por vezes é bem mais suave e mais calmo. Também depende do trabalho eu sei, mas cada um tem aquilo que merece, é o que dizem por ai. Agora trabalho por gosto e gosto do meu trabalho, infelizmente não é assim para toda a gente, paciência. Eu bem sei o que é ir trabalhar por trabalhar, é bem pior e nem as pausas se aproveitam, é sempre mau. Quem está mal muda-se e eu fiz por mudar, acho que mudei bem e tenho de trabalhar para ficar melhor. Eu ainda penso assim, só lá vou com trabalho, o jogo, esse, não quer nada comigo, nem o Benfica se aproveita. Vá. Vou voltar a trabalhar porque por vezes as coisas complicam-se, geralmente sem aviso prévio e a doer. Foi apenas uma pausa, passaram uns minutos, escreveram-se umas palavras…

quarta-feira, abril 22, 2009

Shutdown.


Hoje fico por aqui, já tenho a vista cansada e a vontade também já se foi embora. É assim o dia-a-dia, mas hoje foram muitas horas ligado ao brilhante ecrán do portátil. Tenho vontade de ir para casa, jantar e relaxar um pouco… se me deixarem. Se fosse já possível eu “teleportar-me” para casa seria perfeito, mas ainda não é. Também não me apetece ir brincar ás formiguinhas no metro, por vezes irrita-me. Hoje vai irritar-me de certeza, o habitual mar de gente que também deve estar como eu. A troca de linha a meio caminho também me cansa, faço-o sempre pois não tenho alternativa. O barco já é melhor, isto se houver um lugarzinho para mim, isolado de preferência. Costumo ler, mas hoje acho que vou fechar os olhos um pouco e descansar. O longo e sempre ventoso caminho a atravessar o terminal também me cansa. Tem dias que a felicidade de encontrar o meu rebento contrasta com a pouca vontade de o ouvir. Ela não tem culpa, eu também não, mas a vida é mesmo assim… uma dureza pegada e suada. Tem dias em que ainda tenho de trabalhar mais um pouco, tratar da janta, da casa, da rega, etc. Foi, é, e será assim a vida de muitas pessoas como eu… há quem esteja bem pior. Já fechei os ficheiros excel, o Notepad, a ligação SSH ao Servidor, o sFTP Filezilla, o PHP Editor. Agora vou publicar isto, de seguida fecho o browser do meu blog, o Outlook e… shutdown!

terça-feira, março 24, 2009

Aniversário.


Isso mesmo… já lá vão 38 anos, aninhos, primaveras, etc. Começa a despedida aos intas e a chegada aos entas. Entre outras tantas coisas associadas a este dia especial, em que o próprio reflecte as diferenças da idade, nesta fase começa-se a pensar no que já foi e no que será a partir daqui. A habitual festa mantém-se, no entanto mais ténue e mais suave… sem exageros. Falando no meu caso pessoal, já com família formada, mulher e filha, a responsabilidade aumenta e os pensamentos já não são sonhadores mas sim realistas. Sinceramente penso estar um pouco a meio da minha vida terrena, supondo que poderá existir a continuação do meu “EU” espiritual. Não estou triste, nem sequer melancólico, tão pouco a ficar lamechas, apenas reconheço que os anos passam e já começo a dar conta disso. Já não me sinto um jovem, sei que já não sou jovem, já não me tratam como jovem, mas sinto-me bem. O amadurecimento e o conhecimento adquiridos compensam algumas variantes já em fase descendente, afinal a vida é um binómio entre o físico e a alma. Alguns sonhos, vontades e exageros começam lentamente a trocar posições com algumas realidades, sacrifícios e acomodações… não o posso negar. Ainda não sinto nos ossos as manias do tempo, nem consigo decifrar se chove por um simples olhar do céu ou dos pássaros. Reconheço que começo a admirar o silêncio e a barulheira já não me é indiferente. Sempre adorei o meu sofá, mas esse amor está a aumentar exponencialmente. Começa a preocupar-me não fazer desporto, não alimentar-me de forma saudável, fumar meio maço de tabaco por dia. Penso no futuro e isso é inevitável, no fundo quero como toda a gente, ter boa qualidade de vida, sem sofrimentos físicos ou outros. Mas a minha norma é deixar fluir e ir vivendo, dia após dia, batalha após batalha, lutar sempre pelo melhor para mim e para os que me rodeiam.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Irmandade dos Chocalhos


Vinha eu hoje a caminho do trabalho ouvindo a rádio do costume, a TSF. Sabem como é, as notícias, o trânsito… o costume. Pelo meio das notícias foi referido um simpático idoso alentejano, o senhor Penetra, que colecciona “chocalhos”. Foi curioso ouvir o senhor a explicar o uso dos ditos, a sua verdadeira utilidade, a sua real função. Deu como exemplo uma vaca gulosa, os sarilhos e os estragos que as mesmas podem provocar. Também referenciou que cada chocalho tem o seu som, reconhecendo o pastor que animal está em actividade. Admito que esta informação é básica, não é preciso ter q.i. acima da média para saber, ou suspeitar, que um chocalho apenas teria esta função… denunciar!

Chegámos ao ponto em que também admito que me perguntem, ou se questionem, onde quero chegar com isto. Como sempre irei satisfazer a vossa curiosidade e partilhar uma ideia que tive, daquelas com lâmpada na cabeça e tudo mais.

Ora os chocalhos estão em extinção, arrastando consigo uma antiga tradição, bem como o desaparecimento de verdadeiros artesãos e um pouco da história do pastoreio. Não é coisa que me preocupe admito, tal como não deve ser para as vacas e seus parentes, mas não me é indiferente quando me lembram destas coisas da tradição. Não partilho da ideia nem fui afectado com o vírus “o que não é nacional é bom”, aliás como sou do contra sempre pensei de forma contrária, tendo mentindo por vezes para não ficar mal na fita. Mais uma vez lembro que o mal deste pais está dentro dele, poderá chamar-se falta de amor próprio, de auto confiança, bla bla, etc. Como cidadão sempre preocupado e empreendedor tratei de achar uma solução para a reutilização dos chocalhos. Segundo cálculos do senhor Penetra, só na sua colecção pessoal deverá ter cerca de 6000 destes objectos. Mas perguntam vocês… onde é que isto vai dar? Qual é afinal a ideia? Como e de que forma iremos reutilizar isto? Muito simples!

Para quem tem um pouco de atenção e preocupa-se em andar informado, quer seja com a habitual e sempre noticiada guerra na Faixa de Gaza, quer seja com os escândalos, casos de justiça, CR9 ou entre outras tantas polémicas e mediáticos acidentes de viação que ocorrem no nosso modesto pais, foi neste último que achei uma nova utilidade para os ditos… os chocalhos. Certamente não pensaram que iria tentar negociar alguma possibilidade de uso dos chocalhos para as comunidades isrealitas ou palestiniana, a não ser que um chocalho colocado em cada elemento militar isrealita, bem como um em cada “terrorista“ do hammas, tornariam o relato da guerra bem mais detalhado, além de permitir live show onde facilmente iríamos identificar os intervenientes. Mas não… os ditos ficam mesmo por cá!

Porque não propor a discussão na Assembleia da República ao uso de um chocalho por cada um dos ministros e deputados que por lá estão? Melhor ainda, se a proposta fosse aceite e se tornasse um sucesso, poderíamos estender o seu uso aos grandes administradores públicos e da banca, bem como a outros gestores de topo espalhados por aqui e ali. Assim saberíamos sempre e identificávamos onde andavam em actividade… tal como as vacas gulosas.